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Corrosão


Corrosão: um problema de bilhões de dólares.
* Matéria publicada na revista Macaé Offshore - edição No 18.
Estima-se que no Brasil os gastos com produtos e tratamentos de combate à corrosão cheguem a US$ 10 bilhões e boa parte deles na indústria petrolífera. Além do fator meio ambiente, essa preocupação se torna maior pelos amargos prejuízos financeiros decorrentes deste processo químico

Estudos ao redor do mundo confirmam que a corrosão é realmente um dos maiores problemas da indústria, sugerindo ainda que os países direcionem cerca de 1% a 3% de seu PIB na busca de alternativas para contenção e reposição de materiais danificados por esta reação química.
De investimentos em diferentes pesquisas a contratação de serviços, a mobilização do mercado no objetivo de reduzir os custos e prejuízos gerados pela corrosão cresceu nos últimos anos, segundo informaram empresas do setor, e levantou algumas questões sobre a importância e eficiência dos recursos até então utilizados. Mais do que fornecer custo reduzido, existem outros fatores, como durabilidade e eficácia do método, qualificação da mão de obra e certificações, que ganharam ainda maior valor e hoje encabeçam a lista de prioridades no momento da contratação de empresas da área.
Essa problemática se transformou em oportunidades de negócios para uma extensa cadeia de fornecedores, sobretudo no mercado petrolífero, um dos mais atingidos. Em se tratando da produção offshore, a situação ganha maior relevância dada a existência de grandes e inúmeras estruturas posicionadas em alto mar. Além do processo da corrosão em si, levando à perda do material, existe o risco iminente de desastres ambientais.
A corrosão provoca perda de espessura e falhas em estruturas metálicas, que podem comprometer sua integridade, levando-as ao colapso e causando grandes acidentes.
Da inspeção preventiva aos revestimentos, o mercado apresenta novas soluções anticorrosivas e aposta no crescimento da demanda deste setor. 

Revestimentos orgânicos e ecológicos

Aliar proteção anticorrosiva e preservação ambiental. Mais do que nunca, as empresas do segmento de petróleo e gás têm procurado por produtos e tratamentos que unam esses dois itens.
Para aplicação de revestimentos orgânicos anticorrosivos em peças metálicas, incluindo tubos, válvulas, bombas e outras peças, uma das opções é o polímero Nylon 11 (nome comercial da Rilsan) e Fusion Bonded Epoxi (FBE). "A demanda por revestimento interno tem se destacado em função das condições operacionais mais severas às quais os equipamentos estão sendo submetidos", explica Gilson Gama, gerente comercial de uma empresa especializada do setor que disponibiliza todo o portfólio de revestimentos orgânicos para a Petrobras, seu maior cliente.
O Nylon 11, também conhecido como Poliamida 11, é 100% ecológico e fabricado a partir de resinas vegetais, do óleo de mamona, não possuindo nenhum agente sintético ou de vulcanização. Este produto possui certificação de um órgão ambiental do Japão.
Segundo Gilson, "a Poliamida 11 é indicada para aplicações navais e offshore pelo desempenho, resistência e flexibilidade da substância nesses ambientes". A alta concentração de cloreto é um dos principais problemas nesses segmentos.
Os diferenciais desses revestimentos são: a substituição de ligas metálicas nobres e de alto custo para proteção contra compostos orgânicos e inorgânicos corrosivos; e redução de custos com o uso de anti-incrustantes, inibidores de corrosão e na manutenção preventiva de fluxo de eficiência do equipamento e proteção ao meio-ambiente, reduzindo a substituição prematura de equipamentos e tubulares.
Além desses, a empresa pretende lançar, ainda este ano, dois novos produtos. Um deles é na área de polímeros florados, que possui homologação para revestimentos interno em válvulas. Eles são adequados para trabalhar com um fluido muito corrosivo chamado de "água produzida", que possui alta concentração de H2S, CO2 e de diversas outras substancias químicas, presentes nas atividades de reinjeção para estímulo de produção.
Mesmo trabalhando especificamente com a etapa de aplicação do produto, tal motivo não reduz os cuidados e muito menos os investimentos com as atividades. Por este motivo, a empresa está promovendo as adaptações necessárias a fim de obter a certificação. "Temos toda a responsabilidade de uso e manuseio do produto, então, a partir da aquisição da ISO 14001, estaremos gerenciando toda a cadeia do processo, inclusive qualquer resíduo", afirmou o gerente.
Gilson aponta a intenção da empresa em instalar uma unidade fabril em um município situado na área de influência na Bacia de Campos. Atualmente, mantém uma equipe de apoio para acompanhamento de trabalhos de campo e nas aplicações in situ. A empresa também está se preparando para os desafios tecnológicos para exploração e produção na camada de pré-sal.
Ainda falando de revestimentos, o NonSkid 126, uma solução de outra empresa do mesmo segmento, é um antiderrapante texturizado, à base de resina epóxi curada com poliamida de alta espessura. Pode receber outras tintas para acabamento, tais como as tintas epoxídicas e poliuretânicas.
Possui significativa aceitação pelo mercado e é um exemplo de alta resistência física e química, sendo largamente utilizado em áreas onde há necessidade de proteção e solução para evitar acidentes de trabalho com "escorregões". O produto é ecologicamente correto por possuir teores muito baixos de evaporação de solventes.
"Além do NonSkid 126, possuímos diferenciais tais como apoio técnico antes e depois da compra na aplicação dos produtos e um trabalho de desenvolvimento personalizado para a situação específica de cada cliente", afirma Clayton Queiroz Júnior, gerente comercial da empresa fabricante de tintas e revestimentos anticorrosivos de alta performance. O gerente acrescenta que a empresa possui uma linha direcionada ao atendimento das normas da Petrobras.
A fabricante já atua na Bacia de Campos por meio de sua filial na cidade de Niterói e de fornecedores em várias empresas. Para este ano, contará com estoque local por meio de distribuidores e ação técnica e comercial.
Outra empresa fabricante traz como novidade a linha de revestimentos anticorrosivos líquidos à base de novolacas e resinas epóxi-fenólicas, assim como uma linha de reparos de engenharia metálicos e cerâmicos. Os novos produtos são livres de solventes (COVs) ou à base d’água, alinhados à conduta crescente de respeito ao meio ambiente.
Os revestimentos Scothkote foram desenvolvidos para proteger superfícies metálicas operadas em qualquer ambiente industrial, incluindo tanques, tubulações, maquinário, plataformas de aço e passarelas. Possuem grande aderência às superfícies metálicas, longa duração, resistência a uma gama extensa de produtos químicos e facilidade de uso.
"Tecnicamente, os novos produtos apresentam desempenho superior de resistência térmica e abrasão", explicou Marcelo C. Gandur, gerente de negócios, que atua na Divisão de Produtos para Proteção contra Corrosão desta companhia.
O diferencial da linha de reparos tem como princípio ativo uma tinta anticorrosiva na forma líquida. Apesar de já possuir um produto de mesma finalidade só que sob a forma de pó - bastante utilizado por fabricantes de tubos - a tinta líquida é indicada para reparos dessas tubulações. "Na manutenção de um tubo, é preciso fazer seu corte. Neste processo, a tinta líquida é a solução mais indicada pelo tipo da atividade em si", afirmou José Nunes, gerente de desenvolvimento de negócios da mesma empresa que o gerente Marcelo Gandur.
Os investimentos corporativos globais em P&D da empresa na área de produtos anticorrosivos estão na ordem de US$ 6 milhões. A empresa, voltada para desenvolvimento e pesquisa de novas tecnologias, prevê até o ano que vem a inauguração de um laboratório de desenvolvimento de linha de corrosão em Sumaré (SP).
A empresa trabalha com o desenvolvimento de produtos, e os procedimentos para sua aplicação são feitos por empresas parcerias.
Na Bacia de Campos, a empresa atua por meio de vendedores especializados e serviço técnico. Sobre as pesquisas em andamento, Marcelo C. Gandur conta que a companhia está empenhada em entender os requisitos de desempenho dos revestimentos das condições existentes na camada de pré-sal. "Identificamos um possível aumento na necessidade de revestimentos internos resistentes a fluidos mais corrosivos, com maior grau de flexibilidade, sem comprometimento da resistência térmica e química", explicou.

Maior velocidade da inspeção e aquisição de dados 

A fim de preservar a integridade estrutural de grandes superfícies, tais como navios, tanques, plataformas, dutos e outros tipos, o mercado teve que pensar numa solução eficaz tanto no desempenho da atividade em si, quanto nas formas de otimizar o trabalho, incluindo as tecnologias, custo e sua operacionalização. Uma empresa do setor, especializada em inspeção e desenvolvimento de softwares, vem testando uma solução que se baseia em multiplexadores (circuito básico de interconexão) por ultrassom.
O uso de multiplexadores de ultrassom permite cobrir e avaliar tais tipos de grandes estruturas a um custo razoável, tornando possível a criação de sistemas de pequeno porte, além de confiáveis.
O lançamento é o SMUX, ou supermultiplexador de 48 canais, um multiplexador de ultrassom e software para inspeção de estruturas metálicas por ultras-som, com velocidade de varredura de 300 canais por segundo. Seus diferenciais de mercado são justamente a quantidade de canais, seu tamanho reduzido e sua alta velocidade.
O SMUX permite fazer uma inspeção de um casco de um petroleiro típico em cerca de três dias, com uma resolução de uma medida por centímetro quadrado. Enquanto num multiplexador de primeira geração, o computador comanda o fechamento de cada chave, um supermultiplexador controla sozinho a sequência de fechamento das chaves, o pulsador da fonte de sinais de ultrassom e também fornece sinais de sincronismo para gerenciar a cadência de aquisição de dados pelo computador. O SMUX gera um volume de dados muito maior para o computador tratar, sendo desejável que o computador seja poupado de parte de suas tarefas.
O uso de multiplexadores de ultrassom otimiza a infraestrutura de inspeção, tanto de equipamentos como de pessoal, permitindo que poucos operadores, com poucos instrumentos, possam inspecionar rapidamente grandes áreas, com alta resolução. Os mutiplexadores desenvolvidos são os menores e mais velozes do mercado, podendo ser facilmente adaptados a aplicações em que a portabilidade é importante. Possuem baixo consumo, podendo operar com bateria e alta velocidade de varredura. Com os multiplexadores e os programas de aquisição e análise desenvolvidos, podem ser montados sistemas altamente eficientes para análise de falhas em estruturas.
De acordo com o projetista dessa empresa, Filson Bellan Lee, existe uma tendência no mercado em exigir, além do laudo, uma descrição dos procedimentos adotados, havendo, dentro deste perfil, uma preferência por sistemas automáticos, capazes de adquirir uma maior quantidade de dados, decorrente de uma melhor resolução de medida, com o objetivo de identificar defeitos cada vez menores e disparar medidas preventivas.
Parte das plataformas e dos petroleiros brasileiros já tem um tempo de uso razoável e precisam de inspeção de alta resolução, pois tendem a apresentar problemas de corrosão mais sérios e maiores.
Outra novidade para ainda este ano é o desenvolvimento de um veículo de inspeção de corrosão em cascos de navio, para o qual a empresa vem recebendo o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O investimento da empresa em soluções anticorrosivas chega a 20% de seu faturamento.
Ciente do perfil e necessidades do segmento de petróleo e gás na Bacia de Campos, a empresa, que ainda não tem base nesta área, está programando demonstrações do produto e seus serviços para companhias da região. Enquanto isso, mantém vínculo com a incubadora de empresas da Universidade Federal Fluminense (UFF), que está montando uma estrutura de apoio na região.

Garantindo maior durabilidade 

Dois fatores são apontados como os principais na busca pela maior durabilidade dos produtos e tratamentos de combate à corrosão. Manutenções preventivas e aplicação e escolha adequada do revestimento para as condições de exposição são, segundo as empresas, os itens mais importantes nesse contexto. Tais manutenções e inspeções preventivas podem ser feitas tanto pela empresa cliente quanto pela fornecedora, e o período de verificação varia em cada caso.
De acordo com o gerente comercial Clayton Queiroz Junior, "para todo trabalho, existe um tempo de manutenção e correção". Em geral, as inspeções são orientadas para serem feitas de três a seis meses, e havendo qualquer falha na pintura, que seja logo corrigida.
"Conhecemos casos no exterior em que o equipamento está sendo utilizado há mais de trinta anos", afirma o gerente Gilson Gama.
Ainda na busca de maior durabilidade, existe um outro fator muito importante e anterior à aplicação dos revestimentos que poderá ser crucial no resultado final dessas aplicações. Trata-se da preparação de superfícies. Neste processo, são retiradas quaisquer sujidades, sais solúveis e componentes causadores de corrosão em superfícies.
Uma das opções existentes no mercado é o hidrojateamento. Considerada uma das mais seguras e ecologicamente corretas opções de preparação de superfícies, o hidrojateamento em pressão elevada confere maior produtividade ao processo, o equivalente a 50% se comparado a outros.
Este procedimento substitui todos os processos particulados empregados para esta finalidade, tais como granalha de aço e escória de cobre, e processos mecânicos como agulheiros, esmerilhamento, lixamento, dentre outros.

Deficiências no processo impedem melhores resultados

O alto valor destinado ao setor de tratamento e pesquisas em corrosão possui outras justificativas que vão além da simples ação química e natural. Em meio a tantos investimentos, pequenas falhas como má aplicação do sistema, escolha inadequada e mau treinamento dos profissionais estão no topo da lista de erros mais comuns neste processo.
Para resolver a questão, fornecedores e clientes estão mais exigentes e atentos às novidades do mercado e às certificações indicadas e aprovadas pelos órgãos competentes.
Outro item bastante comentado pelas empresas é a deficiência na qualificação dos profissionais. Uma das soluções que vêm sendo desenvolvidas pela Associação Brasileira de Corrosão (Abraco) são os treinamentos periódicos, abertos ou para as empresas, em diversas localidades do país e em todas as áreas da corrosão, que incluem, por exemplo, pintura industrial e inspeção.
Neste caminho, a associação, que possui papel regulador e promotor, promove também a interligação de todos os componentes da área, de consultores a empresas, oferecendo desde cursos, seminários e congressos até a verificação das regulamentações expedidas pela Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT).
A Abraco sedia o Comitê Brasileiro de Corrosão (CB-43) da ABNT, que tem como objetivo elaborar normas técnicas na Corrosão. Desta forma, elabora, por meio de suas comissões técnicas (pintura industrial, proteção catódica, corrosão atmosférica, terminologia ou inibidores de corrosão), as normas que serão seguidas no processo de certificação de produtos ou profissionais.
Para 2009, a associação iniciará o processo de certificação de inspetores de pintura industrial, baseado na norma ABNT - NBR 15218.


O último grande estudo realizado, há sete anos, nos Estados Unidos, pelas empresas CC Technologies Laboratories, a Nace International, conhecida como a Sociedade da Corrosão e a federal Higway (FHWA), indicou um gasto anual de US$ 400 bilhões somente neste país. No Brasil, ainda não existe um estudo oficial de estimativas de gastos com técnicas anticorrosivas (incluindo seus produtos). Entretanto, ainda este ano, a Associação Brasileira de Corrosão (Abraco) iniciará um projeto cujo objetivo é estimar o custo da corrosão e de suas técnicas de combate e prevenção.
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